(Crédito: Freepik)

Por Dirceu Henrique Vital Nascimento1, 1998

 

1. Introdução

Com a crescente evolução da tecnologia, atualmente vem ocorrendo com maior frequência o fenômeno das vozes paranormais. Este também é conhecido como as vozes de Raudive ou EVP (Raudive, 1970). A sigla EVP significa Electronic Voice Phenomenon. Estas vozes peculiares se manifestam através de gravadores e rádios, onde teoricamente não deveria se achar nenhuma gravação.

As vozes começaram a se manifestar espontaneamente em 1959, na Suécia. Foram captadas quando Friedrich Jürgenson pesquisava o canto de pássaros (Jürgenson, 1972). O estudo das vozes paranormais pertence atualmente ao campo da Transcomunicação Instrumental, abreviando TCI. A palavra transcomunicação é um neologismo que junta duas palavras: trans + comunicação. O prefixo trans vem de transcendental.

Define-se transcomunicação como comunicação com o mundo transcendente, extrafísico. A transcomunicação se divide em dois grupos: a TCM e a TCI. A TCM é a abreviação de Transcomunicação Mediúnica e engloba os fenômenos mediúnicos tais como psicofonia, psicografia e voz direta, entre outros. A TCI engloba fenômenos de comunicação por vias técnicas.

Na TCI as manifestações não se limitam a vozes. A comunicação pode acontecer via televisão, fax e computadores, tanto através de textos como de imagens escaneadas. Mais recentemente ocorre a TCI através de aportes e fotos de máquina Polaroid (Rinaldi, 1997). Aporte é uma espécie de transporte de objetos físicos de outras dimensões para a nossa. Este artigo vai se limitar à questão do reconhecimento e entendimento das vozes.

Muitos pesquisadores, inclusive o autor, se preocupam pelo fato intrigante e curioso de muitas mensagens terem várias interpretações, com sentido muitas vezes vago. Esta multiplicidade de interpretações ocorre por dificuldades técnicas? Quais seriam as suas causas? A descoberta destas causas é muito importante para a melhoria dos transcontatos e a definitiva democratização de acesso ao extrafísico — e a abertura da cosmovisão de muitos. Não precisar do médium como intermediário é um dos objetivos dos responsáveis pelas pontes de contato (Harsh, 1997).

A ponte de contato é o sistema de comunicação que os transcomunicadores constroem para que aconteça a experiência (Harsh, 1997). Existem postos de transmissão em outra dimensão, apontados para algumas partes do planeta, para facilitar o transcontato por vias técnicas, evoluindo do âmbito puramente local para o planetário. O objetivo deste artigo é o esclarecimento de alguns fatos que nos remetam a causas viáveis para o problema de entendimento das vozes paranormais.

2. Percepção linguística e entendimento

2.1. A importância do ruído de fundo 

O fenômeno espontâneo ocorreu com um gravador num quarto fechado captando o ruído ambiente. Verificou-se a existência de vozes diferentes das escutadas durante a gravação. Mesmo quando se está em silêncio pode-se escutar palavras, e até frases completas, depois da gravação deste “silêncio” (Jürgenson, 1972).

Contudo, a importância de um ruído de fundo para produção deste tipo de voz é comprovada por várias experiências (Harsch, 1997). “Jürgenson, Raudive e vários outros tentaram aperfeiçoar este processo: eles observaram que um ruído ao fundo, tal como uma transmissão radiofônica gravada e reproduzida ao contrário, parece facilitar o fenômeno” (Brune, 1994, p.35).

A qualidade e forma deste ruído de fundo é de fundamental importância. Nem todo ruído é propício para que se apareça a voz paranormal. Os transcomunicadores invisíveis, ou seja, os que se comunicam a partir de outra dimensão, não têm cordas vocais tangíveis. Para produzirem uma voz precisam de ruído ambiente de fundo para ser modulado, no caso da TCI. O desafio é saber as características destes ruídos para uma gravação bem-sucedida. Além destas características, é preciso determinar o quanto esta modulação melhora o entendimento das pessoas.

Muitas vezes o ruído pode mascarar o conteúdo da mensagem. Desta forma não só as características deste ruído são fundamentais, deve-se levar em conta a relação sinal x ruído. Ela deve ser adequada para não atrapalhar o entendimento das vozes paranormais. Os benefícios do ruído de fundo têm sido comprovados por equipes multidisciplinares, no campo da física, biologia e engenharia.

Através do estudo da ressonância estocástica, estas mesmas equipes têm comprovado que o ruído de fundo aumenta os sinais fracos (Moss, 1995). “Indeed, many physical systems, ranging from electronic circuits to nerve cells, actually work better amid random noise” (De fato, muitos sistemas físicos, desde circuitos eletrônicos até células nervosas, funcionam melhor em meio a ruídos aleatórios.) (Moss, 1995, p. 50)

Além da importância do ruído de fundo, as próprias vozes paranormais são diferentes das humanas. Uma análise da frequência fundamental feita pelo professor Carlos Luz, da UNESP, demonstra este fato (Goldstein, 1995). A palavra “Raudive”, falada com voz normal masculina está em torno de 110 Hz. A mesma palavra apresentou a marca de 666 Hz, através de um telefonema recebido na Europa. No Brasil, através do mesmo fenômeno, apresentou a marca de 1.428 Hz.

Ou seja, padrões bem acima da voz humana normal. Como a composição da voz paranormal resulta em padrões de frequência fundamental tão elevada? Não existe uma resposta conclusiva a este respeito. Para explicar como esta composição melhora o entendimento das vozes, o presente artigo vai focalizar a questão do processo cognitivo. A palavra cognitivo é um adjetivo relativo a cognição. De acordo com o dicionário da língua portuguesa a palavra cognição significa o ato de adquirir um conhecimento [1].

2.2. Uma introdução à aprendizagem do cérebro

O processo cognitivo do homem está estritamente vinculado às características do seu cérebro. O homem pode aprender a partir da experiência. Ele também pode generalizar partindo de exemplos anteriores e aplicar esta generalização a novas situações. Outra capacidade é a da abstração de características essenciais de padrões assimilados contendo poucos dados (Wasserman, 1989).

O homem apreende estes padrões através dos seus cinco sentidos físicos. O presente artigo se limitará a apreensão de padrões orais através da audição. O estudo de como funciona o cérebro pode ajudar na compreensão da percepção das vozes paranormais. Esta compreensão é de vital importância para entender-se a questão das diferentes interpretações de algumas vozes paranormais.

Existe no cérebro humano várias regiões responsáveis por determinadas funções corporais. Cada região é composta por uma rede de milhões de células nervosas, chamadas de neurônios. O corpo do neurônio tem prolongamentos menores, chamados de dendritos, e prolongamentos maiores chamados de axônios.

A comunicação entre os neurônios é realizada através de reações eletroquímicas, chamadas de sinapses. As células neuronais têm a capacidade especial de receber, processar e transmitir sinais eletroquímicos através de sinapses. Existe no cérebro cerca de 1011 neurônios, com cerca de 1015 interconexões, com dendritos que chegam a 1 metro ou mais de comprimento (Wasserman, 1989, p.12).

Os estímulos recebidos pelos neurônios são conduzidos ao corpo da célula, onde são somados. Quando a soma ultrapassa um determinado limite, o corpo da célula dispara o estímulo enviado pelo seu axônio para outra célula nervosa. Este processo é conhecido como ativação da célula.

Caso o referido limite não seja atingido, a célula é desativada, não enviando estímulos pelo seu axônio para outro neurônio. Desta forma, quando uma pessoa tem uma associação de ideias ou lembra de algo, uma série de reações eletroquímicas acontecem no seu cérebro. Da mesma forma, quando uma pessoa ouve periodicamente as vozes paranormais, uma série de reações eletroquímicas ocorrem no seu cérebro, levando-o a aprender os padrões fonéticos.

Basicamente, a diferença objetiva existente entre o cérebro de duas pessoas é o peso eletroquímico de substâncias nos corpos neuronais de cada rede cerebral, além das diferentes interconexões entre neurônios. Estes pesos são resultado da quantidade de treinamento e tipo de aprendizado pelos quais a pessoa se submeteu. O valor destes pesos vai mudando de acordo com a quantidade de vezes que o padrão é apresentado à pessoa. É ideal quando ocorre o aprendizado.

Por isto, há duplicidade de interpretações das vozes paranormais, dado que o referencial de treinamento é diferente para cada cérebro. A capacidade de aprender e de abstrair são as características cerebrais mais utilizadas no processo de auscultação das vozes paranormais. Os fatores para o uso da abstração são:

    • a baixa intensidade das vozes;
    • a existência de ruído de fundo;
    • a diferença entre as vozes normais e as paranormais.

A característica de aprender também é fundamental, basta observar o fato do poliglotismo de algumas frases captadas por Raudive e Jürgenson. Esta peculiaridade de seu conteúdo confirma o seu caráter paranormal. (Bander, p. 31) Confirma também a necessidade de conhecimento linguístico do experimentador. Como reconheceria os fonemas sem ter aprendido as respectivas línguas? Só com a colaboração de pessoas com tal conhecimento, o que acontece em menor escala.

3. Conclusão

Os fatores indispensáveis para o entendimento das vozes devem ser estudados. Este estudo deve ocorrer baseado em muita experimentação, além de um bom balizamento das variáveis de contorno que envolvem o EVP. A baixa intensidade das vozes paranormais deve ser mais trabalhada com a ressonância estocástica. O grande número de aplicações com sinais fracos em meio a ruído, tratado com esta tecnologia, sugere um alto potencial de sucesso. O comportamento aleatório do ruído passa a ser determinado.

O aumento da inteligibilidade do sinal ocorre com o tempo, através de treinamento de nosso cérebro. Contudo, pode-se treinar um sistema inteligente para reconhecer as vozes paranormais. Depois de processadas por este sistema as vozes ficam mais inteligíveis. Conclui-se que o sistema tem alta probabilidade de sucesso se for desenvolvido usando a tecnologia de redes neurais.

Elas funcionam como o cérebro humano. O fato de alguns transcomunicadores terem sucesso na TCI advém sempre de sua perseverança e disciplina. Estas características são fundamentais para o treinamento do cérebro. Conclui-se que o conhecimento dos princípios estudados neste artigo esclarece o desenvolvimento da acuidade auditiva para a compreensão das vozes paranormais.

A importância de uma referência única e aberta de padrões fonéticos é fundamental. Esta referência atualmente é passada oralmente, através de experimentos conjuntos. Contudo, pode-se criar um método de se passar esta referência através de outros métodos audiovisuais, que podem ser mais eficientes e eficazes do que a forma atual.

Dentre eles, através de fitas K7 especiais, bem como através da Internet. Os padrões separados e organizados, segundo seu nível de compreensão, devem ser apresentados várias vezes, até que se forme a sua compreensão, ou seja, até que o cérebro aprenda.

1 Dirceu Henrique Vital Nascimento é engenheiro civil.

Referências 

[1] BANDER, Peter. Os espíritos comunicam-se por gravadores. 4. ed., São Paulo: Edicel, 1985. 190 p.

[2] BRUNE, François; CHAUVIN, Rémy. Linha direta do Além. Transcomunicação Instrumental: realidade ou utopia? Sobradinho, DF: Edicel, 1994. 268 p.

[3] GOLDSTEIN, Karl. Vozes dos espíritos são diferentes das vozes humanas. Jornal Folha Espírita, p. 5, jun. 1996.

[4] JÜRGENSON, Friedrich. Telefone para o Além. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1972. 259 p.

[5] LOCHER, Theo; HARSCH, Maggy. Transcomunicação: a comunicação com o Além por meios técnicos. São Paulo: Pensamento, 1997. 204 p.

[6] MOSS, Frank; WIESENFELD, Kurt. The benefits of background noise. Scientific American, Estados Unidos, p. 50-53, Ago. 1995.

[7] RAUDIVE, Konstantin. Breakthrough. NY: Tapliger, 1971. 300 p.

[8] RINALDI, Sonia. Aportes por vias técnicas. Revista Transcomunicação Instrumental, a. 1, n. 2, p. 8-10, 1997.

[9] WASSERMAN, Philip D. Neural computing theory and practice. NY: Van Nostrand Reinhold, 1989. 240 p.

[1] Dicionário da Língua Portuguesa. SP: O Globo, 1993.

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Nota do editor do site ‘Além da Ciência’: os artigos são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessária e irrestritamente, a opinião e suporte deste website. O material está sendo disponibilizado aqui para estudo e pesquisa, sendo que cada um deve fazer o seu próprio julgamento.
Nota do revisor: este artigo foi revisado por Alexandre de Carvalho Borges para publicação neste site. A passagem que cita o trabalho de (Goldstein, 1996) sobre um estudo que demonstraria que as vozes humanas seriam diferentes das supostas vozes paranormais demonstrou-se posteriormente ser completamente equivocado.

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