Passados mais de 10 anos do caso Varginha ter acontecido, ainda não existem evidências para este episódio ser caracterizado como um evento de natureza extraterrestre. Esperamos que apareça algum dia fatos definitivos para esclarecer o evento, afinal temos muitos casos ufológicos que só surgiram fatos esclarecedores após vários anos de pura estagnação.

Um exemplo é o caso Roswell, que ficou de molho por várias décadas, e que só mais tarde ouve o aparecimento de novidades e fatos reveladores. Por ora, em tempos recentes um primoroso trabalho de pesquisa sobre o caso Varginha foi publicado no livro O Caso Varginha, do ufólogo mineiro Ubirajara Franco Rodrigues. [1]

Pesquisa apurada e detalhada dos fatos 

O livro é excelente, não somente por cobrir o episódio em toda sua extensão, mas por ser um trabalho de ufologia muito equilibrado e ponderado — marca rara em livros de ufologia. Ubirajara trabalha no seu livro com os fatos, e não com os nossos desejos em torná-los reais.

Ele demonstrou ter um faro apurado ao lidar com os fatos e com as especulações, sem deixar que o racional seja embebido pelos desejos e emoções. Talvez, outros ufólogos estranhem suas posições e pontos de vista. No entanto, o livro não é pautado na questão de se acreditar ou não no caso Varginha, mas sim em tratar o episódio na esfera das provas.

Todos os ufólogos deveriam também procurar alcançar esse equilíbrio ao analisar o caso Varginha, e de conseguir separar o que é apenas o desejo de tornar algo real e o que comprovadamente aconteceu. Acreditamos que um bom modo de se amadurecer na ufologia é passar por uma fase de se decepcionar profundamente por ela, de viver um período de decepção.

O ufólogo Ubirajara Rodrigues, pesquisador do caso Varginha
O ufólogo Ubirajara Rodrigues, pesquisador do caso Varginha

Não é à toa que Ubirajara havia abandonado a ufologia antes do caso Varginha ter ocorrido. Quase um ano antes, ele concedeu entrevista à revista UFO expondo os motivos de ter abandonado a ufologia — ele estava decepcionado com a área e com os seus resultados. Aparentemente, ele retornou para a pesquisa por que o incidente de Varginha ocorreu logo em seguida e, justamente, na mesma cidade onde ele residia.

A ausência de provas da natureza extraterrestre 

Na ufologia é muito fácil presenciar ufólogos ultrapassarem a barreira da especulação e transformá-la em “realidade”. A partir daí, passam a divulgar essa “realidade” como se fosse uma verdade bem estabelecida e comprovada.

O ponto crucial do incidente em Varginha é reconhecer que não há evidências concretas para afirmar que as supostas “criaturas” capturadas em Minas Gerais sejam de natureza extraterrestre. Afirmar que elas sejam seres de outro planeta é partimos para além dos fatos e entrarmos na especulação. Apesar da cautela, alguns pesquisadores mais céticos vão além e afirmam que nenhuma “criatura” foi capturada.

Os fatos que liguem a ocorrência de Varginha a um acontecimento de natureza ufológica são muito tênues e de fraca amarração em seu conjunto. Na verdade, o que menos existe neste episódio são avistamentos de Objetos Voadores Não Identificados (OVNIs). Essa é uma das razões que não consideramos o episódio de Varginha o melhor caso da ufologia brasileira, como alardeiam alguns.

Aliás, quando comparado ao caso Varginha, os ufólogos americanos ainda preferem considerar mais relevante o seu eterno caso Roswell. De qualquer forma, essa questão de “melhor” ou “pior” caso não é verdadeiramente importante, e acreditamos que todos eles têm seu ponto de equilíbrio ao apresentar naturalmente seus fatores negativos e positivos.

 Desenho do que seria o “extraterrestre” de Varginha. Detalhe para os grandes olhos vermelhos.

Desenho do que seria o “extraterrestre” de Varginha.
Detalhe para os grandes olhos vermelhos.

Não há nenhuma prova de que os acontecimentos em Varginha sejam de origem extraterrestre. Porém, ninguém hoje tem condições de encerrar o caso. Constatamos que existe uma “pressão” de alguns pesquisadores mais crédulos para concluir e encerrar o episódio, naturalmente com a conclusão extraterrestre.

Constatamos que, quem não concorda com essa conclusão, muitas vezes não é bem visto; acham que estão tirando o “status” do episódio. Muitos bem sabem que não é por estas estradas que a ufologia funciona.

Casos ainda inconclusivos na ufologia estão sendo classificados de conclusivos por atropelamento de fatos. Em seu livro, Ubirajara trata a natureza das “criaturas” no âmbito das hipóteses — não confirmando a origem extraterrestre.

Como havíamos dito anteriormente, o livro dele não apenas é uma redação bem trabalhada, como também é uma pesquisa bem conduzida e investigada; um livro ponderado, equilibrado e uma aula não só sobre o caso Varginha, mas principalmente sobre ufologia. Ele esclarece a imensa quantidade de especulações que estão rodando por aí e faz concordarmos que, por hora, o que foi apresentado não demonstra a realidade da origem das “criaturas” serem de natureza extraterrestre.

Apenas para reforçar este ponto, em uma entrevista para o site Universia, veiculada em 03 de dezembro de 2004, Ubirajara pondera sobre sua investigação do caso Varginha:

“A minha conclusão é que os fatos realmente ocorreram. Tratou-se da captura de duas criaturas não classificadas, desconhecidas biologicamente. Só isto. Os que são, de onde vieram, se são extraterrestres ou não, tudo é mera especulação infantil de quem o fizer”. [2]

O caso Varginha foi incorporado à ufologia, mas nem ufológico sabemos se realmente o é. Se tomarmos por base o relato de avistamento de um OVNI pelos caseiros de uma fazenda a 10 km do centro de Varginha — as testemunhas Oralina e Eurico —, temos um evento relevante de possível natureza ufológica. (Há também narrações de que os caseiros não foram os únicos a relatar avistamentos de OVNIs na região de Varginha e em seus arredores por aqueles dias.)

Porém, o grande problema do relato dos caseiros é de eles não têm certeza da data exata de seu avistamento. Ao relembrar o ocorrido, eles acreditam que ele poderia ter acontecido na madrugada do dia 20 de janeiro de 1996 ou mesmo uma semana antes, no dia 13 daquele mesmo mês.

Existirá uma relação causal entre este avistamento de um OVNI pelos caseiros e o relato de outras testemunhas da captura das supostas “criaturas” no fatídico dia 20 de janeiro de 1996?

Caseiros Eurico e Oralina disseram ter avistado um OVNI pela região de Varginha.

Uma defesa corrente apregoa que a natureza extraterrestre das “criaturas” em Varginha foi aceita por todos os ufólogos que estiveram investigando o caso de perto e, portanto, esta seria a conclusão correta para o caso.

É sabido que a maioria dos ufólogos do país não esteve presente nos locais das ocorrências em Varginha. Entretanto, suas ausências não capacitam aos outros ufólogos afirmarem que suas conclusões contrárias à tese extraterrestre estão “menos certas” ou mesmo erradas — somente por não terem ido investigar presencialmente.

Se este argumento fosse válido, estes ufólogos não poderiam concluir sobre a natureza das alegadas “criaturas”, pois absolutamente nenhum deles esteve presente no momento exato do encontro com elas.

O que os ufólogos possuem em suas mãos é essencialmente coleta testemunhal, assim como centenas de outros episódios existentes na ufologia. Mesmo aqueles que lá estiveram em 1996 têm opiniões divergentes.

Por exemplo, um dos pesquisadores do caso, o Vitório Pacaccini, diverge em alguns pontos cruciais com o Ubirajara, apesar de este ter sido honesto com os fatos, como poucos. [3] Entre forçar sua crença pessoal para o público, ele demonstrou que não existem elementos para se chegar à conclusão extraterrestre.

O envolvimento dos militares no caso Varginha 

Alguns ufólogos que investigaram o caso afirmam que se chegou à conclusão de que a “criatura” capturada era de natureza extraterrestre porque fora confidenciada por militares em depoimentos a eles.

Segundo contam, estes militares haviam revelado a exata natureza da “criatura” com base na declaração de seus superiores, oficiais de altas patentes. Na verdade, os militares que concederam depoimentos aos ufólogos — e que foi gravado em vídeo — usaram a expressão de que as “criaturas” “não eram deste mundo”.

Um desses depoimentos prestados é de um dos militares que alega ter participado do transporte da “criatura” até a Escola de Sargentos das Armas (ESA). O militar declarou que, como só tinha visto a “criatura” um pouco de longe, na opinião dele era um ser estranho, mas que achava que poderia ser uma pessoa queimada.

Ele afirmou que quando chegou ao quartel foi posteriormente chamado pelo seu superior, o tenente-coronel Olímpio Vanderlei Santos — justamente o comandante da operação militar —, questionando-o sobre o que ele tinha visto. Então, ele conta que o tenente-coronel Olímpio Santos lhe disse que aquilo que ele tinha visto era um ser extraterrestre e que ele deveria manter-se em silêncio sobre o assunto.

Aqui cabem algumas perguntas cruciais: caso esta declaração seja realmente verdadeira, como este militar chegou à conclusão da natureza extraterrestre? Quais foram os motivos que o levaram a alcançar este conhecimento? Foram realizados exames que comprovaram a origem extraterrestre da “criatura”?

Posição do “ET” de Varginha avistado pelas garotas Liliane, Valquíria e Kátia

As indagações vão além: será que foi pelo aspecto físico que classificaram a dita “criatura” como sendo um extraterrestre? É muito comum as pessoas usarem o termo “extraterrestre” para atribuir algo que lhes apresenta inusitado, estranho ou mesmo feio. Será que os militares acharam a alegada “criatura” tão feia que dispararam: “Isso só pode ser de outro mundo, porque nunca vi nada igual”?

Enfim, qual a credibilidade que podemos dar a estes militares? Muitas vezes vemos na ufologia a opinião de um militar ser considerada uma posição acima de quaisquer suspeitas e, assim, presenciamos declarações afobadas de ufólogos do tipo: “Os militares estão corretos porque são militares, então são criaturas extraterrestres, e ponto final!”.

Na verdade, o que nós temos em mãos não é qualquer exame de DNA da alegada “criatura”, e sim um testemunho questionável de um militar que afirma que seu superior teria lhe dito que era um ser extraterrestre.

Existe uma grande áurea em torno dos militares na ufologia; não é por serem militares que automaticamente terão a voz da razão, como pensam alguns. No entanto, o que mais presenciamos são ufólogos afoitos usarem em abundância o argumento da autoridade (Argumentum Ad Verecundiam) para convencer uma posição.

Por serem militares — de patentes superiores ou não —, não tinham motivo para mentir? Não tinham motivo para errar? Eles são humanos, tão sujeitos a erros e acertos quanto os civis. Um exemplo histórico de equívoco no seio militar é o clássico caso Barra da Tijuca, ocorrido em 1952, onde os militares erraram feio e autenticaram as fotografias fraudulentas. Aqui fica o questionamento e, obviamente, a necessidade de provas de como os militares chegaram à conclusão extraterrestre.

É verdade que, para a população, os militares afirmaram que a “criatura” era apenas um rapaz conhecido da cidade, que tem deficiência mental e que passa boa parte do tempo agachado. Depois, em outra versão, declararam que toda movimentação militar e dos bombeiros na cidade tinha como objetivo atender uma anã grávida. A informação de que a “criatura” era um ser extraterrestre foi obtida pelos ufólogos, por confissões de outros militares.

É contraditório que alguns ufólogos somente aceitem os depoimentos de militares que apoiem e endossem seu ponto de vista — logicamente, aquele que seja extraterrestre. Se um militar declara que o caso Varginha era apenas um evento de natureza ordinária, alguns ufólogos prontamente dizem que ele está mentindo e escondendo o jogo. Porém, se outro militar declara que as “criaturas” eram seres extraterrestres, então ele está correto e tem todos os méritos de que está falando a verdade. Nós chamamos este expediente de pensamento seletivo.

A possibilidade da natureza extraterrestre sempre estará presente em muitos casos ufológicos. Não negamos, a priori, esta hipótese para o caso. O que se questiona é a evidência apresentada para se afirmar que, em Varginha, foram capturadas criaturas que sejam de outro planeta. A diferença é imensa.

Infelizmente, questionar a natureza extraterrestre para o caso incomoda o establishment vigente. Apesar de muitos artigos terem sido escritos sobre o caso — como se os ufólogos já tivessem a plena certeza de que as alegadas “criaturas” eram seres extraplanetários —, muitas posições estão calcadas em evidências nada palpáveis. Por hora, o que foi apresentado não demonstra a realidade da natureza extraterrestre.

 Local onde foi avistada a “criatura” pelas três principais testemunhas. (Foto: revista Manchete)
Local onde foi avistada a “criatura” pelas três principais testemunhas.
(Foto: revista Manchete)

A queda e a captura da “nave extraterrestre”

Alguns ufólogos afirmam que os militares chegaram à conclusão da natureza extraterrestre da “criatura” por que eles tinham a nave acidentada dos extraterrestres em mãos e, obviamente, tinham a própria “criatura” para análise. Quando aceitamos — sem prova absolutamente alguma — que os militares capturaram uma nave extraterrestre acidentada, fica mais fácil sugestionar o pensamento.

É claro que podemos especular que os militares tenham capturado uma nave extraterrestre que se acidentou em Minas Gerais, mas infelizmente o que vemos no meio ufológico é que a possibilidade de algo ser verdadeiro acabar virando uma certeza inegável para alguns. Enfim, atropelam-se os fatos para firmar os pré-conceitos.

A única testemunha que alega ter visto o recolhimento pelos militares de uma suposta nave extraterrestre acidentada é um senhor de nome Carlos de Souza. Quando dirigia seu veículo por uma estrada, Carlos afirma ter visto um objeto desconhecido cair e de ter observado toda a movimentação de recolhimento dos destroços pelos militares.

Este senhor é a única e isolada testemunha alegando este fato extraordinário — e não há mais nada além de seu depoimento para sustentar o que alega.

Ubirajara faz ponderações no seu livro sobre essa testemunha — aliás, o livro todo é muito bem ponderado. Já o ufólogo Vitório Pacaccini afirma que Carlos é um aproveitador. Em uma entrevista com ele, uma das perguntas lançadas pelos internautas foi sobre a autenticidade das declarações dessa testemunha. O internauta pergunta:

“O depoimento do empresário Carlos de Souza pode ser realmente levado a sério? Ele afirma que viu a operação de recolhimento na nave no dia 13/01/96, mas o casal de agricultores [Oralina e Eurico] disse que viu uma nave com visíveis problemas no dia 20/01/96, as duas informações não batem.” [4]

Pacaccini responde:

“Em hipótese alguma — não pode ser levado a sério. Eu nem menciono esta pessoa em minhas palestras e nem mesmo em meu livro. […] O depoimento do ‘Carlos de Souza’ está literalmente descartado — por uma série de motivos que nem vou discorrer aqui no momento. Este tal de ‘Carlos de Souza’ nada mais fez do que tentar se incluir no incidente ocorrido em Varginha, de uma forma até mesmo infantilóide. Posso afirmar que a passagem deste ‘Carlos de Souza’ dentro da pesquisa de Varginha, por enquanto, não existe e, portanto, em nada contribui”. [4]

Como Carlos não relatou se a nave teria explodido no ar, o esperado seria encontrar marcas no solo do impacto. Porém, na procura posterior por provas da alegação fantástica de que uma nave extraterrestre se espatifou no chão, os ufólogos não encontraram nem um fiapo sequer de destroço dessa suposta nave, e nem uma marca sequer no solo (o que denunciaria que algo impactou).

Sucessão de eventos ordinários 

Existe uma hipótese para explicar o caso Varginha como tendo sido um encadeamento de ocorrências não corriqueiras que se sucedeu em alguns dias na cidade de Varginha e em seus arredores. Fatos naturais com baixa probabilidade de acontecerem em sequência acabaram se chocando em conjunto, em dias consecutivos.

O resultado final desse conjunto de ocorrências banais, de um dia qualquer, acabou ganhando uma dimensão exagerada e entraram no enredo do caso Varginha como acontecimentos extraordinários.

As três principais testemunhas do caso Varginha, Liliane Silva, Valquíria Silva e Kátia Xavier

Naqueles dias fatídicos uma movimentação militar e civil ocorreu acima da média na cidade de Varginha, e estes acontecimentos foram bem demonstrados pelos ufólogos. No entanto, algumas ocorrências que foram incorporadas ao enredo do caso Varginha não parecem ter nenhuma relação com a dita captura das “criaturas”.

Uma delas foi o boato de que, pelo menos, uma das alegadas “criaturas” foi enviada aos EUA para análise. Essa afirmação ainda pertence ao reino da especulação e não tem seu sustento em fatos.

Aceitamos que ocorreu uma movimentação na cidade de Varginha e em seus arredores. O que se questiona é se toda essa movimentação foi devido à declarada presença de criaturas extraterrestres ou se foram apenas eventos ordinários quaisquer.

Na nossa avaliação, o incidente em Varginha permanece como um caso frágil, do ponto de vista de sustentá-lo como sendo a presença de seres oriundos de fora da Terra. O episódio tem um grande enredo e envolve até MIBs, mas o que menos existe são relatos de avistamentos de OVNIs. Não desacreditamos que, daqui a algumas décadas, o caso possa ser considerado um grande fiasco da ufologia.

A influência cultural nas testemunhas e nos pesquisadores 

Em 1977 um episódio nos EUA ficou conhecido como o “Demônio de Dover” e apresentava aspectos muitos similares ao caso Varginha — pelo menos em seu desenrolar inicial. Na época, residia na mesma região um criptozoólogo conhecido, o norte-americano Loren Coleman, que investigou o caso. [5]

O episódio acabou sendo classificado como mais uma ocorrência criptozoológica — e não ufológica. Teria sido a influência do pesquisador sobre o caso que o classificou nesta categoria ou realmente seu contexto levou a esta conclusão? Essa mesma pergunta deve ser refletida sobre o caso Varginha.

As principais testemunhas do episódio mineiro, as garotas Liliane Silva, Valquíria Silva e Kátia Xavier, inicialmente não declararam ter visto um ser extraterrestre. Elas afirmaram que pensaram ter tido a visão do demônio, descrevendo com ênfase os seus grandes olhos vermelhos. Somente depois, com a entrada dos ufólogos na investigação do caso, aparentemente elas acabaram influenciadas a pensar que, o que viram, foi um ser de outro planeta.

Se o incidente em Varginha tivesse ocorrido, por exemplo, em determinados estados dos EUA, talvez o episódio pudesse hoje ser associado em outra categoria — por exemplo, ele poderia ser definido como uma ocorrência da criptozoologia, e não da ufologia.

Não devemos prontamente descartar a hipótese de que a ocorrência em Varginha tenha se estabelecido pelo cunho de natureza extraterrestre por justamente haver ufólogos morando perto do local do evento, e foram eles que conduziram a investigação do episódio.

Como no Brasil não há tradição em pesquisar criptozoologia, talvez se o caso Varginha tivesse ocorrido próximo da casa de um criptozoólogo, como Loren Coleman, por exemplo, e não próximo à casa de um ufólogo, como Ubirajara Rodrigues — um dos principais investigadores do caso —, o evento poderia ser associado a outra natureza.

A verdade é que a interpretação acaba sendo metamorfoseada subjetivamente para qualquer ponto que se queira chegar, já que não dispomos de fatos concretos nos quais se apoiar sobre a natureza das supostas “criaturas”. Varginha tanto pode ser um chupacabras, como pode ser um demônio, assim como um ser criptozoológico ou mesmo um ser extraterrestre — ou até nada de extraordinário.

O criptozoólogo Loren Coleman
O criptozoólogo Loren Coleman

As interpretações variam, porque não existem fatos conclusivos e claros. No entanto, não afirmamos aqui que seja real a existência do chupacabras e nem muito menos a do demônio, porém estas entidades mitológicas poderiam ser interpretadas pelas testemunhas com seres reais que elas realmente presenciaram.

A influência da cultura das testemunhas e dos pesquisadores pode ter tido um papel preponderante para interpretar o que seria a natureza da alegada “criatura”. Se não fossem os ufólogos que tivessem tomado o caso para investigação, será que estaríamos hoje chamando o episódio mineiro de outro nome? De Demônio de Varginha?

Quando alguns ufólogos acreditam que o chupacabras seria a interpretação para a alegada “criatura” avistada em Varginha, naturalmente outros dirão que os chupacabras também são seres extraplanetários e seriam experimentos genéticos de raças mais avançadas.

O ponto de destaque dessa criatura são os grandes olhos vermelhos, que também aparecem em outras criaturas mitológicas, como o Mothman (Homem-Mariposa). Relembramos que os olhos vermelhos estiveram presentes nos relatos das três garotas que dizem ter visto a “criatura” no terreno baldio.

Segundo contabiliza o ufólogo porto-riquenho Jorge Martín, que pesquisou as ocorrências de chupacabras, existem somente no Chile aproximadamente trinta diferentes espécies, com diferentes tamanhos, formas físicas e cores. Diz-se que o primeiro caso de chupacabras no Brasil chegou em 1995; o caso Varginha ocorreu em 1996. Dá o que pensar. [6]

Varginha teria ligação com o mitológico Chupacabras?
Varginha teria ligação com o mitológico chupacabras?

A influência da mídia nas testemunhas 

Alguns pesquisadores opinam que a mídia tenha influenciado o depoimento de algumas testemunhas secundárias, que apareceram dias depois do episódio ter ocorrido. Assim, seus depoimentos foram “contaminados” pela versão de que, realmente, uma criatura extraterrestre esteve em sua cidade.

A própria Prefeitura Municipal do Município de Varginha utiliza o episódio para promover turismo e divulgar a cidade. No site da prefeitura é possível encontrar a história do caso em sua página principal, e tem até um desenho do “ET de Varginha”.

É verdade que a chegada do turismo ufológico veio depois do caso se tornar famoso e depois de ser divulgado amplamente na mídia. A “contaminação” das testemunhas pode ter ocorrido, e o próprio ufólogo Pacaccini acusa Carlos de Souza (que afirma ter visto uma nave extraterrestre cair) a se aproveitar do caso para aparecer. Entretanto, a mais grave “contaminação” seria a do próprio pesquisador com as testemunhas, caso ela realmente tenha acontecido e tenha sido decisiva para este caso em particular.

As evidências do caso Varginha estão abertas para o público e todos podem questionar e debater se essa evidência demonstra ou não a realidade extraterrestre. A cada indivíduo cabe a sua interpretação e argumentação. O julgamento das provas está na maturidade de cada um.

Referências 

[1] RODRIGUES, Ubirajara. O Caso Varginha: pela primeira vez revelada a história completa sobre a captura de estranhas criaturas no Sul de Minas Gerais. Campo Grande: CBPDV, 2001. 

[2] MARQUES, Renato. O Caso Varginha. Universia, 03 dez. 2004. Disponível em: <http://noticias.universia.com.br/destaque/noticia/2004/12/03/493941/aso-varginha.html>. 

[3] PACACCINI, Vitório; PORTES, Maxs. Incidente em Varginha: criaturas do espaço no Sul de Minas. Belo Horizonte: Cuatiara, 1996. 

[4] Perguntas dos internautas sobre o Caso Varginha. Fenômeno UFO: O caso Varginha, [1999?]. Disponível em: <http://www.terravista.pt/Meco/2629/perguntas.htm>. 

[5] SULLIVAN, Mark. Decades later, the Dover Demon still haunts. The Boston Globe, 29 Oct. 2006. Disponível em:<http://archive.boston.com/news/local/articles/2006/10/29/decades_later_the_dover_demon_still_haunts/>. 

[6] MARTÍN, Jorge. La conspiración chupacabras: el más completo análisis del inquietante fenómeno “chupacabras”/”EBAs”. San Juan, P.R.: Cedicop, 1997.

Alexandre de Carvalho Borges
Físico em formação (bacharelando) pela Universidade de Franca, Analista de Tecnologia da Informação pela Universidade Católica do Salvador, pós-graduado em Ensino de Astronomia pela Universidade Cruzeiro do Sul, pós-graduado em Ensino de Física pela Universidade Cruzeiro do Sul, pós-graduado em Perícia Forense de Áudio e Imagem pelo Centro Universitário do Norte, pós-graduado em Inteligência Artificial em Serviços de Saúde pela Faculdade Unyleya, pós-graduado em Tradução e Interpretação de Textos em Língua Inglesa pela Universidade de Uberaba, e fotógrafo.

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