Alegações de avistamentos de UFOs ocorrem a mais de 50 anos. Apesar das aparições já surgirem a muito tempo atrás com outros nomes do inventário popular, foi a partir desse período que surgiu uma nova consciência para interpretar os UFOs. Agora, era considerada a possibilidade de esses objetos aéreos serem espaçonaves de outros orbes estelares.

Os UFOs relatados e catalogados pelo mundo apresentam diversos formatos. Não existe somente o formato clássico de “disco”. Relatos, fotografias e filmes já capturaram formatos discoidais, cilíndricos, triangulares, esféricos, ovais e retangulares. A partir daí, foram criados inúmeros termos para descrever o que as pessoas têm avistado no céu, no solo, ou no meio aquático, que boa parte chega a ser imprecisa, incorreta ou imprudente.

Alguns exemplos de termos usados para descrever os fenômenos aéreos são: discos voadores, pires voadores, sondas, foguetes fantasmas, foo-figters, aerofomas, charutos voadores, triângulos voadores, navex, OSNI e OANI. Um dos termos mais famosos é o flying saucer — pires voador —, surgido no ano de 1947.

Erro terminológico inicial: a meia-lua de Kenneth Arnold

O termo flying saucer se difundiu e é amplamente utilizado até hoje, sendo atualmente um fator gerador de confusão e imprecisão na interpretação dos relatórios de UFOs. O surgimento deste termo nasceu a partir de um erro de interpretação de um jornalista, ao ouvir a narrativa do piloto civil estadunidense Kenneth Arnold (1915–1984), em 1947, sobre seu avistamento de UFOs no Monte Rainier.

Apesar de ter desenhado em um papel, pelo próprio punho, o objeto por ele avistado — com formato de meia-lua —, Arnold confirmou que nunca disse que o que teria avistado no céu tinha o formato de um pires, e sim que o voo dos UFOs se comportava como um pires lançado na água.

Realmente, Kenneth Arnold não afirmou que viu literalmente “pires” voadores. Um jornalista ouviu sua narrativa e interpretou erroneamente sua declaração, publicando que o piloto tinha avistado objetos com formato de pires, ao invés de informar que os objetos se comportavam como pires jogados na água.

Os discos de Kenneth Arnold
Os pires voadores descritos pelo piloto Kenneth Arnold

O erro de interpretação do jornalista ajudou a popularizar o termo, agora já estabelecido nos Estados Unidos de “pires voadores”. O étimo deste termo — que não foi cunhado pelo piloto Arnold — incorporava as seguintes características:

Formato: tipo meia-lua (representado pelo desenho do próprio Arnold);
Comportamento: voava como um pires lançado na água, em velocidade de cerca de 2.700 km/h;
Tamanho: cerca de 15 m de comprimento e 3 m de altura.

Essas são as características que Arnold descreveu. De certa forma, nos seus tempos iniciais o termo era propício, apesar da confusão da sua criação e da explosão de relatos de avistamentos ocorridos em 1947. Até hoje, o termo é confundido e mal utilizado, ocasionando imprecisão, confusão e afastando da roupagem de seriedade que a disciplina necessitaria.

Kenneth Arnold mostra o que avistou no céu

Arnold estava em um avião quando disse ter avistado os objetos, e a maioria dos relatos em 1947 eram de testemunhas em terra. Arnold poderia ter tido uma visão mais privilegiada do objeto do que as pessoas em terra? Seria por essa razão que ele descreveu o objeto com o formato de meia-lua, ao invés de um disco?

Para comprovar esta tese teria que ser realizado um estudo do ângulo de visualização de uma testemunha em terra, ao observar esse objeto com formato de meia-lua no céu.

A partir de seu ângulo de visão em terra, a testemunha poderia ver um objeto no formato de meia lua como se fosse um disco? Se for correta essa hipótese, o jornalista que provocou o erro terminológico inicial não gerou tanta influência no imaginário popular, pois as testemunhas poderiam estar narrando realmente que viram “discos”, a partir do seu ângulo de visão em terra.

A origem do termo UFO e a sua “contaminação” 

A ufologia moderna não nasceu na investigação de fenômenos atmosféricos e sim na administração militar do espaço aéreo. O termo “UFO” é mundialmente utilizado até hoje. No entanto, seu significado foi se modificando ao longo dos anos.

A sua criação surgiu da tentativa de expressar, em termos técnicos precisos, o significado do que as pessoas alegavam avistar nos céus. Hoje em dia o termo está totalmente “contaminado” como sinônimo de “naves extraterrestres”.

O termo “UFO” foi criado em 1952 pelo capitão americano Edward Ruppelt (1923–1960), chefe do projeto Blue Book da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF). Em seu livro Discos voadores: relatório sobre os objetos aéreos não identificados (Difusão Europeia do Livro, 1959), Ruppelt afirma que “UFO é a designação oficial que criei para substituir a expressão ‘pires voadores’”.

Algumas outras fontes citam que a criação do acrônimo é anterior a 1952, datando por volta de 1949, por intermédio de militares em operação no Projeto Grudge, anterior ao Blue Book. De acordo com o dicionário Houaiss da língua portuguesa a etimologia do termo “UFO” em inglês é de 1953. Já o termo “OVNI” é datado em 1978, e o termo “Ufologia” em 1959.

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Projeto Blue Book analisou relatórios de UFOs

Na verdade, já fez décadas que o acrônimo “UFO” virou sinônimo de “visitantes espaciais extraterrestres”. O acrônimo está irrevogavelmente “corrompido” e “contaminado”. A etimologia da palavra, que designava um “objeto voador não identificado”, perdeu o páreo para sua imediata associação com alienígenas e naves extraterrestres. Resgatar a etimologia não será mais possível, por mais que se expliquem as origens do termo.

É comum vermos em publicações a fusão de vários termos distintos para designar um mesmo sentido. Por exemplo, é comum ler em artigos ufológicos o uso do termo “disco voador”, e em outro trecho do mesmo artigo observar o uso do termo “UFO”, para designar o que anteriormente era chamado de disco voador. Enfim, a bagunça já está estabelecida.

O ufólogo e astrônomo norte-americano J. Allen Hynek (1910–1986) tentou salvá-lo, resgatando a definição de “não identificação” e separando-a da “contaminadora” identificação extraterrestre. Ele definiu em seu livro, Ufologia: uma pesquisa científica (Nórdica, 1972), a diferença entre um “objeto” — que denota a ideia de algo sólido e físico, e uma “luz noturna”.

Apesar da letra “O” — de objeto — do acrônimo “UFO” ter sido etimologicamente criada para designar a ideia de algo sólido e de existência física na atmosfera terrestre, como por exemplo, um avião (e não um relâmpago), o acrônimo passou a ter um caráter mais ampliado. O “objeto” passou a ser qualquer corpo que fosse avistado, seja ele de aparente aspecto sólido ou não.

O termo “UFO” foi criado em 1952 pelo capitão Edward Ruppelt

Para fugir do estigma de “homenzinhos verdes” que o acrônimo UFO encorpou, já não é de hoje que alguns pesquisadores estão utilizando outros termos alternativos para se desvincular de todo o preconceito que o termo UFO representa hoje. Temos, por exemplo, o termo UAP (Unidentified Aerial Phenomena — Fenômeno Aéreo Não Identificado, FANI).

Como já falamos, é praticamente impossível restaurar hoje a etimologia do termo UFO como representação de um “objeto voador não identificado”, como era na época do capitão Ruppelt. Dentro e fora da ufologia o termo UFO está “contaminado” extraterrestrialmente.

Por isso, muitos preferem o termo UAP, que ainda não foi “contaminado” e é também mais amplo e preciso na descrição do fenômeno. Entretanto, por força histórica, publicações ainda preferem adotar o termo “UFO”.

A profusão de termos

Os termos OVNI, OANI e FANI apresentam algumas diferenças conceituais: o “V” de “voador” não se encaixa em alguns relatórios descrito por testemunhas, quando o fenômeno não aparenta estar voando numa trajetória, ou seja, ele apenas surge e desaparece em um determinado ponto, sem se movimentar pelos céus. Por isso, prefere-se adotar o termo “aéreo”. Além disso, o termo “voador” está contido no termo “aéreo”, sendo este mais amplo.

Na busca da precisão terminológica alguns pesquisadores têm trabalhado nessa questão da minúcia técnica. Com relação ao termo “sonda”, prefere-se não usar porque não é preciso. Ele denota “sondagem” e, dessa forma, já está embutido um “objetivo” no fenômeno, sem ao menos sabermos se, de fato, o fenômeno está “sondando” a área em que foi avistado.

Quando um objeto é avistado por uma testemunha e a mesma não consegue identificá-lo, não podemos embutir um imediato “objetivo de sondagem” nele, pois não sabemos nem qual é seu objetivo — se é que tem —, quanto mais que ele esteja “sondando”. No entanto, alguns ufólogos dizem que “sabem que é uma sonda, pois já vi várias”.

Estar treinado a reconhecer uma “sonda” — por ter visto muitas — é falar que reconhece as características de um fenômeno. Entretanto, reconhecer a origem do fenômeno é outro departamento. E se não reconhecemos a origem do fenômeno não podemos afirmar conclusivamente ser ele de fora do planeta Terra.

Esboço da observação de UFOs, por Kenneth Arnold

Outro termo utilizado na ufologia é o Navex. Ele é a abreviação de “nave extraterrestre”, e era muito conhecido em décadas atrás. Hoje em dia está praticamente fora de uso. Confusão maior é unir os termos OVNI, disco voador e Navex em um termo único de mesmo significado. Enfim, a confusão foi estabelecida. Com relação ao termo “disco voador” é um dos mais imprecisos dentre os demais. Até porque, UFOs não são necessariamente discoidais.

Hoje, uma pessoa vê uma esfera luminosa no céu, não sabe o que viu e diz que é um “disco voador”. Este termo é totalmente impreciso para a ciência: disco é disco e esfera é esfera, além do termo já estar “contaminado” de ser de origem alienígena. Um brilho não identificado no céu é, a priori, um UFO, que nada mais é do que um objeto voador não identificado — termo criado no seio das forças militares.

O objetivo atual dos pesquisadores é encontrar um termo que expresse um fenômeno não identificado, sem lhe atribuir características que desconhecemos. Por não ser considerada ciência a ufologia deve utilizar métodos científicos para estudar os objetos voadores não identificados e sempre procurar renovar seu arsenal terminológico para representar a verdadeira expressão dos fenômenos observados.

Referências

[1] ARNOLD, Kenneth. I did see the flying disks! Fate, Lakeville, v. 1, n. 1, p 4-10, Mar. 1948.

[2] HYNEK, J. Allen. Ufologia: uma pesquisa científica. Tradução de Wilma Freitas Ronald de Carvalho. Rio de Janeiro: Nórdica, 1972.

[3] HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

[4] PUTTEN, Philippe Piet Van. UFO: enciclopédia dos fenômenos aeroespaciais anômalos. São Paulo: Makron Books, 2000.

[5] RUPPELT, Edward J. Discos voadores: relatório sobre os objetos aéreos não identificados. Tradução de J. Escobar Faria e Auriphebo Berrance Simões. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1959.

Alexandre de Carvalho Borges
Físico em formação (bacharelando) pela Universidade de Franca, Analista de Tecnologia da Informação pela Universidade Católica do Salvador, pós-graduado em Ensino de Astronomia pela Universidade Cruzeiro do Sul, pós-graduado em Ensino de Física pela Universidade Cruzeiro do Sul, pós-graduado em Perícia Forense de Áudio e Imagem pelo Centro Universitário Uninorte, pós-graduado em Inteligência Artificial em Serviços de Saúde pela Faculdade Unyleya, pós-graduado em Tradução e Interpretação de Textos em Língua Inglesa pela Universidade de Uberaba, e fotógrafo.

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