O jornalista de nome João de Oliveira, do Rio de Janeiro, entrou em contato comigo dizendo que é filho de uma testemunha que esteve presente no navio Almirante Saldanha do famoso caso Ilha da Trindade. Segundo ele, seu pai teria visto o UFO.

Infelizmente, o pai dele — a suposta testemunha — já faleceu, e o jornalista só guardou na memória o caso narrado por ele. O nome da testemunha seria João Batista de Oliveira.

Esse nome não figura em documentos da época que estão acessíveis a mim. Entretanto, troquei alguns e-mails com ele e depois telefonei para sua casa, onde conversamos algum tempo sobre seu pai e o que ele ainda se lembrava do que havia lhe contado.

Abaixo, um extrato da conversa que tive com João de Oliveira, filho de uma alegada testemunha do avistamento de um UFO sobre a Ilha da Trindade, em 16 de janeiro de 1958. A conversa aconteceu por telefone e por e-mail, em dias diferentes.

 

Qual o nome completo de seu pai?

João Batista de Oliveira

Quantos anos ele tinha na época do avistamento?

Foi em 57? Então ele tinha 58, pois nasceu em 1899. [O caso ocorreu em 1958, então ele teria 59 anos].

Qual era a patente de seu pai na época do avistamento?

Ele estava a bordo por conta de uma instalação que iria ser feita, ou reformada, na ilha. Meu pai era empreiteiro de obras.

Seu pai era amigo pessoal do fotógrafo do UFO Almiro Baraúna?

Não, acho que não ele nunca mencionou isso.

Você conhece outros amigos de seu pai que estavam no navio e também viram o UFO?

Não, eu nem era nascido, nem ele era casado com minha mãe nesta época.

Seu pai chegou a ver a foto do UFO ainda a bordo do navio?

Não, acho que não.

Quantas pessoas no navio seu pai falava que tinham visto o UFO, você se lembra?

Não, mas me falou outras coisas. Ele disse que o UFO se afastou quando um marinheiro estava pronto para disparar um tiro de canhão na direção dele. Que o UFO fez várias passagens próximas ao mar antes de ser fotografado.

É, nos relatos têm esse fato do canhão.

Nos relatos têm isso?

Sim, de apontar armas. Não especificamente quanto ao canhão, mas de apontar armas, sim. Não chegaram a disparar.

Pois então comprova realmente que ele estava lá.

Mas que o UFO fez várias passagens próximas ao mar, antes de ser fotografado, diverge dos relatos das outras testemunhas do caso. O que é relatado é que o UFO veio do mar, fez uma volta por trás do pico Desejado e voltou para o mar. Mas, que ele tenha feito várias passagens não existe em nenhuma documentação.

Me lembro bem que ele disse que o UFO dava rasantes na água.

Este acontecimento também não existe em nenhum relato e documentos da época.

Outra coisa é a existência de uma grande caverna na Ilha, cercada de mistérios, como uma chaminé interna e pegadas na entrada, sempre na mesma direção. Não sei o quanto disto é fato. Mas me lembro bem de ter ouvido esta história contada por ele um monte de vezes. Ele não chegou a trabalhar na ilha, pois a Marinha ou quem o contratou não chegou a um acordo final no orçamento da obra.

E seu pai chegou a ir com o pessoal da Marinha para essa caverna?

Não, eu acho que essa história da caverna o pessoal contou para ele.

Seu pai foi entrevistado na época pela Marinha? Foi entrevistado por algum jornal? Enfim, ele deu algum depoimento formal do avistamento para alguém?

Não, acho que não.

Seu pai guardou algum documento da época sobre o avistamento? Como recortes de jornais, por exemplo.

Não. Eu só vi fotos sobre o assunto uma vez na revista Manchete que achei numa biblioteca, aí associei as fotos e a ilha ao caso que ele contou.

Então ele não chegou nem a mostrar para você as fotos do UFO alguma vez?

Não, esse acontecimento não foi um fato marcante na vida dele, nada extraordinário, era considerado natural.

Estou pensando que foi você que associou o caso porque viu na revista. Ou seja, não foi seu pai que lhe mostrou diretamente; foi você que viu a foto e associou com todo o caso.

Quando vi a foto na revista, eu falei: “É o caso que meu pai contou, meu pai estava neste barco aqui“, mas ele não me mostrou foto, nada. Não era um fato extraordinário para ele, era um fato qualquer.

Penso também que ele possa ter estado nos outros avistamentos anteriores na Ilha da Trindade, pois ouve outros avistamentos antes do famoso caso da fotografia de Baraúna. Ou seja, ele pode ter estado em algum destes, e não no navio Almirante Saldanha.

Não tenho como lhe afirmar.

Seu pai era interessado em ufologia antes do avistamento ou passou a se interessar depois do avistamento, ou nunca se interessou pelo tema?

Não. Ele não dava muita importância para esse assunto. Nem repetia muito essa história, acho até que se contou três vezes foi muito.

Você havia me dito antes que seu pai sempre contava essa história da Ilha da Trindade e depois você menciona que, se ele contou três vezes, foi muito.

Exatamente. Eu estou relembrando, eu estou forçando a minha memória a partir do seu questionamento, então eu estou começando a me lembrar, mas não era um fato fantástico e marcante na vida dele. Eu estou tentando me lembrar, mas porque faz muito tempo.

Você diz que uma das suas paixões é a ufologia. Como você se interessou pela área?

Bom, acho que você está tentando fazer uma associação. Por isso, deixe-me falar um pouco de mim, antes que faça um julgamento precipitado sobre minha personalidade. Acredito que ler Zacharias, Erich, Carl Sagan (os argumentos céticos dele são ótimos) qualquer um desenvolve um mínimo interesse sobre o assunto.

Na verdade, eu escrevo para jornais há mais de 20 anos e ufologia é um tema mais atual nas minhas colunas. A minha preocupação é que não tem nada a ver este fato (Caso Trindade) com meus interesses pessoais.

Meu pai nunca me falou de hipnose (sou hipnólogo clínico e membro didata atuante do Instituto Brasileiro de Hipnose Aplicada), nem de publicidade (sou publicitário pós graduado em Comunicação e Linguagem), tão pouco meu pai mostrou interesse por Rádio e no entanto sou Diretor da Rádio de maior alcance e audiência no Norte Fluminense e falo diariamente (pelo meu programa jornalístico) para um universo de mais de oito cidades fora internet e TV.

Outra coisa que meu pai nunca mostrou interesse foi psicologia e estarei me formando em breve pela Estácio de Sá Campos dos Goytacazes.

Eu não fiz essa pergunta por estar questionando sua pessoa, mas apenas porque queria saber se tinha sido influenciado pelo seu pai com as narrações de Trindade.

OK. Bem Alexandre, desculpe por não ter lhe ajudado muito sobre o caso. Telefonei para minha mãe e ela também não se lembra.

Comentários de Alexandre Borges

João de Oliveira foi muito solicito em responder minhas perguntas. Ele frequenta listas ufológicas na internet. O nome do pai dele não figura em nenhum documento que disponho sobre o caso.

A menção às várias passagens e rasantes do UFO sobre a água diverge da história do caso Trindade, por isso pensei se o pai dele não poderia estar presente em alguma outra data de avistamento na Ilha. Seis avistamentos ocorreram antes do famoso dia 16 de janeiro de 1958.

Em relação específica ao canhão não encontrei menção na história do caso, mas em relação ao uso de armas é narrado por Almiro Baraúna. O navio Almirante Saldanha realmente tinha canhões, conforme constatamos nas características descritas abaixo:

Características:

Deslocamento: 3.325 ton (carregado).

Dimensões: 93 m de comprimento, 15,8 m de boca e 5,5 m de calado.

Propulsão: velas e diesel; 1 motor diesel de 1.400 hp, acoplado a 1 eixo, e 4 mastros de velas.

Velocidade: máxima de 11 nós (motor).

Armamento: 4 canhões L/75 de 102 mm, 1 canhão L/40 de 76 mm, 1 metralhadora e 1 tubo de torpedo de 533 mm.

Conclusão

Na avaliação deste autor, a testemunha João Batista de Oliveira não estaria ligada ao caso Ilha da Trindade, e foi descartada. Batista pode ter sido testemunha de algum outro avistamento de um UFO, não necessariamente ocorrido na Ilha da Trindade e nem no ano de 1958.

Na avaliação deste autor, ao olhar uma revista que descrevia o caso Ilha da Trindade, seu filho associou a narrativa que seu pai lhe contou e pensou que ele teria sido uma testemunha do famoso caso ocorrido no navio. Infelizmente, a testemunha já faleceu e não pudemos avançar em maiores esclarecimentos.

Alexandre de Carvalho Borges
Físico em formação (bacharelando) pela Universidade de Franca, Analista de Tecnologia da Informação pela Universidade Católica do Salvador, pós-graduado em Ensino de Astronomia pela Universidade Cruzeiro do Sul, pós-graduado em Ensino de Física pela Universidade Cruzeiro do Sul, pós-graduado em Perícia Forense de Áudio e Imagem pelo Centro Universitário Uninorte, pós-graduado em Inteligência Artificial em Serviços de Saúde pela Faculdade Unyleya, pós-graduado em Tradução e Interpretação de Textos em Língua Inglesa pela Universidade de Uberaba, e fotógrafo.

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