No estado atual da ufologia tudo aquilo que é visto como “bom demais pra ser verdade” acaba se tornando suspeito. E assim deve ser. É fundamental essa suspeita, principalmente do que seja bom demais.

A época da ufologia “romântica” acabou, e levou consigo a crença daqueles que acreditavam piamente sem questionar sistematicamente os fatos. Imagine se nós não suspeitássemos das incríveis fotografias de discos voadores em close-up tiradas pelo declarado contatado suíço Eduard Meier? Não iríamos nem investigar e chegar à conclusão de que elas seriam fraudes.

A suspeita e o questionamento

É primordial suspeitar de tudo dentro da ufologia. A dúvida e o questionamento dos fatos deve ser uma das principais ferramentas de um ufólogo. Com ela, o pesquisador partirá para galgar um melhor embasamento e, consequentemente, buscar uma posterior investigação adequada dos fatos ocorridos.

Afinal, lidamos com um fenômeno desconhecido e devemos suspeitar, indagar, e a questionar o “porquê”, exigindo daquelas pessoas que defendem uma tese, que a demonstre como chegou lá. Será que uma ocorrência ufológica aconteceu mesmo ou a testemunha tem alguma intenção oculta para inventar histórias fantasiosas?

Como elas executaram o trabalho para descartar outras explicações de um suposto caso de natureza ufológica? Será que elas avaliaram e descartaram outras possibilidades convencionais? Esse é o papel do ufólogo, sempre utilizando seus questionamentos e conhecimentos e aplicando-os na investigação ufológica.

Entretanto, nem todos os ufólogos gostam desse incessante questionamento — ou mesmo autoquestionamento. Muitos deles já aceitaram que UFOs são, irrevogavelmente, extraterrestres. Para eles, questionar essa regra em um determinado caso não seria mais relevante, em vista de que já saberiam a sua natureza: era de origem extraterrestre!

Outros ufólogos, que preferem ser mais cautelosos e procuram aplicar em suas pesquisas e estudos um parâmetro de caráter científico, acabam não sendo “bem vistos” em muitas circunstâncias.

Então, aqueles ufólogos que já aceitaram os extraterrestres como origem da maioria dos casos ficam contra esses “questionadores de plantão”. A reação é de que eles estariam “incomodando” o establishment vigente. Eles criticam, afirmando que é muito mais fácil, da parte desses questionadores, tentarem mostrar que uma ocorrência ufológica seja algo conhecido e banal do que defender a hipótese ufológica. Realmente é muito mais fácil.

A hipótese ufológica

No entanto, aqui entra a pergunta principal deste escrito: qual é a “hipótese ufológica” que precisa ser defendida? A de que UFOs sejam naves pilotadas por extraterrestres vindos de outro planeta? Este problema seria interessante se fosse tratado como uma hipótese, mas não é o que geralmente acontece.

Na visão de boa parte dos ufólogos que aceitam a presença extraterrestre na Terra — não como uma hipótese, mas como algo já estabelecido e inquestionável — é justamente este procedimento que deve ser feito: defender a hipótese ufológica a todo custo e combater aqueles que não coadunam com sua sentença. Para os questionadores, que preferem avaliar e ponderar, seu trabalho não é bem-visto dentro da ufologia.

Existe um pensamento equivocado no meio ufológico ao se afirmar que, para ser ufólogo ou estudar ufologia, o indivíduo tem que aceitar que os UFOs sejam naves extraterrestres. E mais: afirmam que o papel do ufólogo é divulgar a presença extraterrestre na Terra.

Penso que essa linha de pensamento seria como negar a UFOLogia, aceitá-la como meia verdade, e impor a ETLogia. O estudo (Logia) dos Objetos Voadores Não Identificados tem como uma das suas principais hipóteses, a extraterrestre; não o seu inverso: o estudo (Logia) dos extraterrestres tem como uma das suas principais hipóteses, os Objetos Voadores Não Identificados.

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O papel do ufólogo

De qualquer forma, esta é apenas uma opinião. Todos têm o direito do livre pensar e de defender seus pontos de vista como bem entendem… ainda mais dentro da ufologia, palco de especulações e opiniões das mais variadas e esdrúxulas. Será que um dos reais papéis do ufólogo é divulgar a “inegável” presença extraterrestre na Terra?

Como esse escrito não é uma crítica, e nem muito menos pretende pregar a ideia de que as pessoas coloquem a natureza extraterrestre dos UFOs como uma hipótese ou como uma certeza, o real papel do ufólogo fica na consciência de cada um.

Para boa parte da ufologia mundial a hipótese ufológica se refere imediatamente aos extraterrestres. É claro que é mais fácil demonstrar que algo é ordinário e conhecido do que demonstrá-lo como extraterráqueo.

O papel daquele ufólogo questionador da hipótese extraterrestre sempre estará mais facilitado neste sentido. Ele sempre estará buscando o reducionismo para um determinado caso, mas sem que este expediente se torne obsoleto ao reconhecer a extraordinariedade do fenômeno em si.

O trabalho do ufólogo que tende a analisar os fatos com parâmetros científicos será justamente verificar se “aquela coisa que voa lá no céu” não é um pássaro, um avião, um balão, um meteoro, etc. Não está se afirmando, no entanto, que a hipótese extraterrestre esteja errada ou deva ser descartada.

Pelo contrário, ela ainda é uma hipótese muito boa para explicar parcela dos UFOs registrados. Na verdade, está se tentando restabelecer o real papel do ufólogo científico (ou pelo menos, como boa parte deles pensa assim), a de sua cautela em não sair afirmando algo sem for empregada qualquer análise prévia.

Afirmar, por exemplo, que “aquela coisa que voa lá no céu” é uma nave intergaláctica, sem qualquer embasamento para sua tese, seria um procedimento reprovável. Por que, neste hipotético caso, por exemplo, não poderia ser um fenômeno terrestre raro ou talvez a visão de uma entrada de meteoro na atmosfera terrestre?

Sem valer-se de tal rotina de estudo sério, estaríamos apenas sujeitos ao irracional emotivo; não estaríamos empregando a razão e a análise crítica. Sem tal postura, estaríamos apenas compromissados por uma defesa apaixonada de fatos que se mostram duvidosos.

Quando cito o termo “apaixonado” neste contexto, não me refiro a gostar de ufologia ou ser um apaixonado por ela, mas sim a agir apenas calcado por emoção, sem base crível, sem trabalhar com exclusões de hipóteses e estar essencialmente envolvido em uma paixão cega. A realidade é que a ufologia já perdeu sua identidade faz muito tempo.

Por isso, reafirmo que o real papel do ufólogo deve estar na consciência de cada um. Porém, por outro lado, um bom ufólogo científico ainda deve seguir caminhando, utilizando-se das ferramentas que a ciência dispõe hoje no mundo atual, e seu real papel possui contornos mais definidos.

Ataques pessoais pelas divergências de opiniões

Em tempos recentes ocorreu um caso ufológico com diversas filmagens de UFOs nos céus do México. O caso foi cunhado de “frota de UFOs”, e ainda não tinha sido bem analisado em toda sua extensão, sobrando diversas possibilidades para o que seriam realmente aqueles “UFOs”. No entanto, alguns ufólogos esbravejavam, afirmando que aquela filmagem era de “discos voadores, e quem afirmasse o contrário é porque queria derrubar a ufologia; são os detratores”.

Percebemos que é uma reação beirando o irracional, chegando mesmo a denegrir quem não concordasse com suas opiniões. Os ufólogos científicos, sempre cautelosos, preferiam averiguar direito o caso e testar hipóteses prosaicas.

Flotillas de OVNIs. Capa da revista UFO promove a
Capa da revista UFO promove a “frota de UFOs” como sondas alienígenas. Elas são apenas balões de festividades

Talvez seja por uma dessas razões que a ufologia recebe tanta crítica da opinião pública e do meio científico. O meio científico ri e vira as costas de quem age assim. Quer seja balão ou quer seja um não identificado… chegar-se-á a alguma conclusão. Porém, dizer que aqueles que estão averiguando as possibilidades são pessoas do contra, insatisfeitos de plantão e adjetivos do gênero, é lastimável.

O trabalho verificador de hipóteses ordinárias é recebido como uma crítica — até mesmo como uma crítica pessoal — pela ala dos ufólogos que acreditam piamente nos extraterrestres. Verificar hipóteses para um caso ufológico não é uma crítica, e sim apenas um procedimento de pesquisa científica.

Contudo, muitas vezes a reação é puramente emocional, e alguns pesquisadores acham que esses ufólogos questionadores estão desmerecendo o trabalho daqueles ufólogos que já aceitaram a presença inegável de ETs no planeta Terra.

Mais uma vez, devemos lembrar que este escrito não é uma crítica aos que assim pensam. No entanto, o que não se deve é criticar e difamar a outra corrente de ufólogos que pensa e age diferente, que preferem avaliar de forma ampla as hipóteses para a natureza do alegado fenômeno.

Por que a verificação de hipóteses — um método científico — é levada para o lado pessoal por tantas pessoas? É surpreendente a reação, mas a razão disto é porque os ufólogos sérios retiram delas o brilho, a fantasia e a imaginação. A ufologia, com certeza, ainda tem uma parte mergulhada no reino das fantasias e ilusões dos humanos.

Alexandre de Carvalho Borges
Físico em formação (bacharelando) pela Universidade de Franca, Analista de Tecnologia da Informação pela Universidade Católica do Salvador, pós-graduado em Ensino de Astronomia pela Universidade Cruzeiro do Sul, pós-graduado em Ensino de Física pela Universidade Cruzeiro do Sul, pós-graduado em Perícia Forense de Áudio e Imagem pelo Centro Universitário Uninorte, pós-graduado em Inteligência Artificial em Serviços de Saúde pela Faculdade Unyleya, pós-graduado em Tradução e Interpretação de Textos em Língua Inglesa pela Universidade de Uberaba, e fotógrafo.

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