O molde que deu origem à UFOlogia é bem diferente do formato em que ela é exercida hoje. O que predomina atualmente é a sua transmutação para uma espécie de ETlogia, sendo que aquela UFOlogia primordial é tão rara hoje em dia quanto os brontossauros.

Para uma corrente de defensores deste campo de pesquisa, não há mais o que se discutir: há provas inequívocas e inquestionáveis de que máquinas voadoras oriundas de outras civilizações do cosmos estão sobrevoando nossos céus, e ponto final. Para esses proponentes, os clássicos casos da ufologia são algo como Monalisas irretocáveis.

De acordo com estes defensores, os clássicos casos da ufologia mundial já estão absolutamente comprovados como episódios de natureza alienígena, e não é admissível questioná-los, a não ser para adicionar elementos que reforcem o que acreditam ser sua natureza extraplanetária.

Para eles, quem não concordar com esse dogma faz “parte da imensa massa de céticos que querem negar a presença inquestionável dos nossos irmãos extraterrestres e destruir a ufologia”.

Alguns defensores mais ardorosos vão além e enxergam essas histórias de visita de naves interplanetárias como uma espécie de santuário de reverência. Em um trabalho de Sísifo, alguns fervorosos evangelistas desta corrente de pensamento sugerem tratamento psiquiátrico a todos aqueles que insistem em questionar se naves espaciais procedentes de outros planetas estão realmente sobrevoando nosso planeta.

Na verdade, ninguém precisa de psiquiatra e nem de ingerir antidepressivos para acreditar que alegadas naves espaciais oriundas de outros mundos estão sobrevoando nossos céus. O que se julga necessário são evidências científicas concretas que alicercem essas alegações; e elas simplesmente não existem!

Questionando as alegações

A alegação de que veículos espaciais de outros orbes estão sobrevoando nossos céus não foi comprovada pela ciência, estando sua tese aberta ao questionamento. O objetivo da ciência não é divulgar a “inegável presença extraterrestre no planeta Terra”, pois tal alegado corolário defendido por alguns ufólogos não é e nem nunca foi verdadeiro.

O que a ciência deseja descobrir é se esses fenômenos que as pessoas dizem ver nos céus são realmente naves espaciais oriundas de outras civilizações do cosmos ou se essas histórias podem ser esclarecidas como fenômenos vulgares — quiçá fenômenos terrestres ainda não conhecidos; ou a maior parcela se abrevie apenas na mais deslavada fraude.

Não ter uma solução para um resíduo de fundo restante de uns 3% de todas estas histórias — que ainda resistem a uma explicação racional — não implica concluir prontamente que já esteja comprovado que elas sejam de natureza extraplanetária.

Os episódios da ufologia são histórias de domínio público e sujeitos à análise da ciência. Eles são eventos de fenômenos aéreos alegadamente desconhecidos e, como tal, estão nativamente abertos ao questionamento. Ora, se são eventos de fenômenos aéreos não identificados, o que se espera é a busca em tentar identificá-lo.

Uma fotografia não permite comprovar que um corpo fotografado seja uma nave que veio de outro planeta. Além disso, por princípio, fotos podem ser forjadas — e há inúmeras técnicas para realizá-las.

Aquelas pessoas que vivem enfurnadas 24 horas no limitado microcosmo da ufologia pensam que histórias clássicas já estão absolutamente comprovadas como episódios de natureza alienígena, não sendo mais permitido questioná-las. E não estão, como nenhuma história está.

Imagine se não pudéssemos analisar criticamente narrativas tão duvidosas como as de Roswell e Varginha? Estas histórias não são evidência concreta de que estamos sendo visitados por seres do espaço, por mais que não reconheçam aquelas pessoas que precisem vender histórias de visitantes extraterrestres para sobreviver.

Revisão das fotografias do passado

O avanço da ciência e da tecnologia tem permitido reavaliar episódios ocorridos no passado em variadas áreas do conhecimento humano, tais como a criminal, a dos esportes e das artes. Uma das razões de casos antigos de registros fotográficos ufológicos serem revisados hoje em dia é devido ao atual estado tecnológico da nossa sociedade.

Nós podemos utilizar a tecnologia atual para periciar fotografias antigas — época em que tal tecnologia não estava disponível —, assim como é possível utilizar a tecnologia para periciar quadros atribuídos a Van Gogh e descobrir se vieram das mãos do pintor pós-impressionista ou se são uma pintura bem-feita criada pelas mãos de uma farsante.

Existem hoje muito mais indivíduos que dispõem de uma câmera fotográfica do que do início da década de 50 e equipamentos mais avançados do que naquela época.

Apesar do mundo tecnológico atual, com centenas de milhões de smartphones espalhados pelo mundo e acessíveis rapidamente pelo bolso de uma calça, quem está fotografando “discos voadores” com a mesma qualidade de várias fotos antigas do século XX?

Qual a credibilidade dessas fotos que estão surgindo hoje e que, porventura, tenham qualidade nítida? A nossa resposta para essas indagações é de que todas essas fotografias são muito questionáveis. Em síntese, não há absolutamente nem uma foto e nem um vídeo ufológicos acima da crítica — assim como também não há fotos inequívocas de espíritos, de Pés-Grande e de monstros do Lago Ness.

Algumas fotografias de discos voadores — que são consideradas por alguns pesquisadores como umas melhores provas de que estamos sendo visitados por alienígenas —, tais como a do Lago Cote (1971), a da Ilha de Vancouver (1981) e a de Trent (1950), têm problemas inerentes e têm sido colocadas em xeque por dedicadas análises. Elas são apenas fotografias que classificamos como, no mínimo, duvidosas.

Apesar de algumas fotos terem se tornado icônicas com o passar dos tempos, elas nunca estiveram acima da crítica. No entanto, nós não estamos tratando de simples fotografias de um avião no céu. O elemento que temos em mãos é um evento que rompe o ordinário e adentra no extraordinário: imagens de alegadas naves espaciais oriundas de outros planetas.

Eventos de ordem extraordinária são nativamente abertos ao escrutínio público e passíveis de uma análise draconiana, pois tais fenômenos ainda não foram comprovados pela ciência. É assim que o jogo funciona e é nesta linha que continuará funcionando, pois é assim que a ciência trabalha.

Ajoelhar a uma pseudociência

Imagine só, se uma legítima ciência como a astronomia, que procura vida fora do planeta Terra muito antes da ufologia pensar em existir, vai se ajoelhar perante essa pseudociência e aceitar acriticamente o que ufólogos apresentam por aí como “prova” de visitas de naves alienígenas.

A ausência de provas e a baixa credibilidade da maioria dessas histórias se entrelaçam na óbvia consequência de que não há rigorosamente nenhum caso ufológico isento de sofrer questionamentos e nem nenhum clássico da ufologia é intocável.

Nem teorias científicas como a do Big Bang ou a existência e mecanismo dos buracos negros estão imunizadas de se submeterem ao incessante questionamento e revisão.

Não será a ufologia, uma pseudociência chafurdada em fraudes — que não teve nem uma sequer de suas teses comprovadas e que muitas vezes está apenas escorada no espaldar da crença acrítica —, que estará imune e intocável de ser questionada e revisada sistematicamente — quantas vezes forem necessárias e por quem assim o desejar.

Alexandre de Carvalho Borges
Físico em formação (bacharelando) pela Universidade de Franca, Analista de Tecnologia da Informação pela Universidade Católica do Salvador, pós-graduado em Ensino de Astronomia pela Universidade Cruzeiro do Sul, pós-graduado em Ensino de Física pela Universidade Cruzeiro do Sul, pós-graduado em Perícia Forense de Áudio e Imagem pelo Centro Universitário Uninorte, pós-graduado em Inteligência Artificial em Serviços de Saúde pela Faculdade Unyleya, pós-graduado em Tradução e Interpretação de Textos em Língua Inglesa pela Universidade de Uberaba, e fotógrafo.

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